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domingo, 12 de junho de 2011

Quando a gente ama qualquer coisa serve para relembrar...

Sou de uma família do interior de Minas Gerais. Por esse motivo, tive uma infância onde as minhas manhãs de domingo eram tomadas de músicas sertanejas - leia-se: caipiras. Na época, eu acha um horror. Era uma verdadeira tortura ter que ouvir. Mas, o tempo vai passando, a gente vai ficando mais condescendente, vai amadurecendo e vendo o valor e a beleza em coisas que não via. Esse tipo de música continua não sendo a minha preferida, mas tenho simpatia e reconheço o valor da música de raiz do interior do nosso Brasil. Em determinados momentos, até gosto. Bom, vamos ao que interessa!
Hoje, voltando do mercado, coisa que não faço há algum tempo e não tinha como adiar mais, uma música não saía do meu pensamento. E era, justamente, uma daquelas músicas que ouvia sob tortura quando pequena. Talvez, tomada pelo espírito do dia dos namorados, fiquei com essa música na cabeça e me peguei a cantarolá-la baixinho pela rua. Só lembra de um trechinho:

Quando a gente ama
Qualquer coisa serve para relembrar
Um vestido velho da mulher amada
Tem muito valor
Aquele restinho do perfume dela que ficou no frasco
Sobre a penteadeira
Mostrando que o quarto
Já foi o cenário de um grande amor


Depois lembrei que essa música era do Chitãozinho e Xororó, Fio de Cabelo...nossa, tão antiga, mas tão presente ainda nas minhas lembranças.
Imagina se minhas amigas me escutam cantarolando isso...ah, duvido que elas também não tem seu lado brega, seu lado interiorano.
Não sei porque, mas gostei daquela nostalgia. Lembrei da infância, do rádio velho que chiava e meu pai procurava uma estação AM que tocasse suas músicas. Tempos bons aqueles, não tinha grandes responsabilidades, tinha sempre alguém que me amava pra fazer tudo pra mim e eu ainda tinha coragem de reclamar. Que menina mimada!!!  Como eu era feliz!!!
Tive um infância como poucas crianças tem hoje. Brincava na rua até tarde da noite. Parecia mais um moleque. Minha rua tinha muitas crianças, meninos e meninas brincavam juntos. Era pique de tudo que era tipo, pulava elástico e corda, amarelinha, carniça, jogava gude, taco, queimada, futebol...tinha sempre alguém pra ser o café com leite, que completava o time. Ninguém vinha oferecer maconha, cocaína, crack ou seja lá o que fosse. A gente ia pra rua pra brincar. E cresci na Baixada Fluminense, no município de Belford Roxo, que na época era conhecido como o mais violento da América Latina.

Quando a gente foi crescendo,  aí vieram as primeiras conquistas, as brincadeiras foram mudando. Mas a gente ainda as usavam como desculpa para ir pra rua ou pra casa de alguma colega. Lembro que meu primeiro beijo foi numa brincadeira enquanto esperava o catecismo começar. Brincávamos de salada mista. Sempre tinha uma amiga que sabia quem era o garoto que a gente gostava e abria um pouco os dedos na hora da gente apontar quem iríamos beijar. O meu foi assim. Um dia desses, o vi. Nossa, bem mais velho, com filhos, nem de longe parece aquele garoto de 8 ou 9 anos que eu beijei. Isso mesmo, ele era bem novinho, eu também...sempre fui precoce. Tinha 8 anos quando o beijei. Foi um beijo inocente, mas o suficiente para eu ficar desesperada, achando que podia ter engravidado e que minha mãe iria me matar. Só com 8 anos e naquela época para se pensar assim...rsrsrs...santa inocência. Mas, eram tempos bons aqueles.

Aí a gente cresce, perde essa inocência, acha que fica esperta e tudo muda. Percebe que o mundo mudou, as pessoas mudaram e tem que se adaptar ao novo, ao estranho, ao que for possível para nos manter vivos nesse mundo louco, de relações loucas, de valores mais loucos ainda. É obrigada a assumir responsabilidades, ter pessoas que dependem de você, pagar contas, controlar gastos e tantas outras coisas. Aff...por que tem que ser assim?!
Mas, um dia você vai ao mercado e na volta o trecho de uma música, que muitos dizem ser brega e até é, traz você à sua infância e a tudo que você amava. Faz você relembrar, até mesmo, seu primeiro namoradinho, aquele do primeiro beijo.
Tem coisa que a gente não sabe explicar porque, mas elas existem por um motivo muito especial. Quem sabe aquela "tortura" musical foi necessária para que hoje eu possa valorizar as minhas raízes?! Só sei que foi muito bom lembrar daquele tempo, daquelas pessoas, das coisas que eu fazia e da pessoa que eu era.
Se sou o que sou hoje é porque muita água passou debaixo dessa ponte chamada vida. Mas, olhando para trás, eu gosto do que eu vejo. Tenho orgulho do que sou e de onde venho.


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